terça-feira, abril 27, 2004

Uma ilha de surpresas
[ categoria: Jornal O Globo – 27/04/04]
Giuliano Ventura
Especial para O GLOBO FLORIANÓPOLIS

" A capital de Santa Catarina já foi conhecida como a terra do surfe, com os irmãos Padaratz; do tênis, com Gustavo Kuerten; e, mais recentemente, do vôlei, com a Unisul, atual campeã da Superliga Masculina. Mas quando se fala do futebol de Florianópolis, ninguém costuma ficar impressionado. No último domingo, o Figueirense mudou, pelo menos temporariamente, essa história. Contra todas as apostas, foi o único time com 100% de aproveitamento nas duas primeiras rodadas do Brasileiro.

A torcida está numa euforia nunca vista nos 83 anos do clube. E tem seus motivos. Em cinco anos, o time saiu de coadjuvante da Série C para a inédita liderança isolada do Brasileiro. Não bastasse, acaba de comemorar o tricampeonato catarinense — algo que não acontecia desde os anos 30. Com 13 títulos no total, igualou-se ao rival Avaí, que não consegue sair da Segundona.

Salários em dia, um dos trunfos do clube

O principal destaque do Figueirense nas primeiras rodadas do Brasileiro foi Sérgio Manoel, veterano que viveu dias de glória pelo Botafogo. Aos 32 anos, ele fez o gol da vitória contra o Internacional, na primeira rodada, e outro contra o Atlético-PR, no último domingo.

— Encontrei um grupo forte e unido que me ajudou a reviver minha melhor fase —- disse o jogador.

Sérgio Manoel chegou em janeiro e já está conquistando torcida e clube. E a recíproca parece ser verdadeira. Seu contrato vai até 31 de dezembro de 2004, mas ele já fala em ficar mais tempo. A mulher e os três filhos se adaptaram bem à cidade. E os rendimentos vão bem, obrigado.

— Posso dizer que agora ganho melhor do que quando jogava no Rio, porque aqui eu recebo em dia. Lá era muito difícil isso acontecer — explicou Sergio Manoel.

Mesmo em situação vantajosa, o jogador se diz triste com a situação dos clubes do Rio de Janeiro, especialmente a do Botafogo.

— Fico chateado porque sou torcedor do Botafogo e espero que essa mudança (a saída de Levir Culpi) melhore o time — disse Sergio Manoel, sem esquecer que mudanças administrativas também são necessárias para os clubes cariocas.

Pagamento em dia, como em qualquer outra atividade, faz a diferença. Em meio às crises que enfrentam vários clubes grandes, esse tem sido um dos trunfos que o presidente do Figueirense, Paulo Prisco Paraíso, usa para atrair bons jogadores.

— Desde 1999, implantamos um projeto de administração empresarial para pôr o Figueirense entre os grandes times do Brasil —- disse Paraíso, secretário da Fazenda do estado no governo de Paulo Afonso Vieira, que ficou marcado pelo escândalo dos precatórios.

Com a base de 2003 preservada, o Figueirense colhe os frutos do entrosamento em campo — cinco jogadores têm mais de 100 partidas pelo time. Recentemente, dois atletas formados no clube, o lateral Filipe Kasmirski e o atacante Roberto Rodrigues, foram convocados para a seleção brasileira sub-20.

Nos últimos cinco anos, o número de sócios do clube saltou de 309 para quase 11 mil. O estádio Orlando Scarpelli foi reformado e um centro de treinamento foi construído. Durante três anos o Figueirense teve parceria com a CSR Esporte e Marketing, empresa de Rivaldo, que permitiu intercâmbios com times europeus. Mas, segundo Paraíso, o clube teve uma relação mais estreita de aprendizado com o Atlético-PR.

Nos próximos cinco anos, o projeto é ser campeão brasileiro. Por enquanto, com os pés no chão, o clube quer continuar no topo vencendo o Santos, amanhã, em Florianópolis."
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E que venha o Santos !

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